domingo, 30 de outubro de 2016

VISÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA - Eduardo Marinho

VÍDEO em que Eduardo Marinho descreve sua VISÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA.

"Ocupação é uma necessidade social. Nós estamos em um Estado criminoso que sabota a saúde, a educação, dominado por empresa, que mantém um sistema escravagista. Na minha opinião a gente nunca viveu em uma democracia. Isso aqui nunca foi uma democracia." (EDUARDO MARINHO)

RESUMO E QUESTÕES - ELAINE BEHRING E IVANETE BOSCHETTI

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Escola sem Partido: entenda o que é o movimento que divide opiniões

Professores têm se posicionado contra as ideias do Escola Sem Partido

O Senado lançou nesta semana uma enquete em que toda a sociedade pode opinar contra ou a favor do projeto de lei 193/2016, de autoria do senador Magno Malta (PR-ES), que inclui entre as diretrizes e bases da educação nacional o programa Escola sem Partido.

O programa, que tem ganhado defensores e críticos nos últimos tempos, existe desde 2004 e foi criado por membros da sociedade civil. Segundo Miguel Nagib, advogado e coordenador da organização, a ideia surgiu como uma reação contra práticas no ensino brasileiro que eles consideram ilegais. "De um lado, a doutrinação política e ideológica em sala de aula, e de outro, a usurpação do direito dos pais dos alunos sobre a educação moral e religiosa dos seus filhos", explica. Para Nagib, todas as escolas têm essas características atualmente.

A proposta do movimento é de que seja afixado na parede das salas de aula de todas as escolas do país um cartaz, onde estarão escritos os deveres do professor.

MATÉRIA COMPLETA NO LINK ABAIXO:

Com funk ostentação, grupo leva conscientização a jovens da periferia

"Ostentação é aprender, o estudo valorizar, adquirir conhecimento, minha meta conquistar". São com essas palavras e uma mistura de funk com rap que MC Oz, ao lado de seus colegas do MCs pela Educação, abre seus shows para plateias lotadas de estudantes de escolas públicas da periferia de São Paulo. Oziel Ferreira, 29, foi usuário de cocaína e dependente de álcool durante a adolescência. Recuperado, utiliza o funk para mudança social.
MCs pela Educação durante apresentação em uma escola pública de São Paulo
MATÉRIA COMPLETA NO LINK ABAIXO
http://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/2014/09/1518821-com-funk-ostentacao-grupo-leva-conscientizacao-a-jovens-da-periferia.shtml

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

DESINDUSTRIALIZAÇÃO PODE SER UM BEM?


Em recente edição da revista Veja há uma coluna do Mailson de Nóbrega, ex-ministro da Fazenda do governo FHC com intrigante título “O lado bom da desindustrialização”. A palavra “desindustrialização” entrou em uso só recentemente, mas está sendo aplicada cada vez com maior freqüência e maior preocupação.

Não é para menos. Nas últimas décadas prevaleceu um otimismo e até um orgulho patriótico sobre as façanhas da indústria nacional, que crescia a olhos vistos dominando segmentos sofisticados como o automotivo ou aeronáutico.

Os males que afetam a indústria brasileira são por demais conhecidos e comentados e, infelizmente, de difícil solução, já que os problemas são praticamente todos na esfera governamental, onde a iniciativa ou opinião privada pouco pode fazer, mais ainda com o Congresso e Senado compostos de políticos que ainda não mostraram para o que foram eleitos. Problemas de legislação obsoleta, problemas de infra-estrutura, agora agravados pela onda de greves, injustificáveis, enfim, deixo a cargo dos mais competentes e mais envolvidos ou atingidos comentar os “malfeitos” (também um neologismo em moda).

Onde será que Mailson de Nóbrega encontrou “O lado bom” na desindustrialização? Segundo ele, não é fenômeno tipicamente brasileiro, mas trata-se de fenômeno global. A participação da indústria nacional no PIB de 1985 foi de 35 % e caiu para 16 % em 2009. Mas o crescimento anterior era mais resultado do fechamento da economia do que resultado da eficiência. As perdas alarmantes de competitividade sofridas nos últimos tempos se devem ao aumento salarial acima da produtividade, sistema tributário caótico, legislação trabalhista anacrônica, infra-estrutura deteriorada e burocracia excessiva. Nada que já não teria sido comentado e analisado. O problema reside no fato, de que não há nem tentativa de remover ou corrigir estes fatores.

O lado bom, da desindustrialização residiria no aumento da área de serviços, cada vez mais sofisticados e importantes para a vida moderna. Não falamos de salões de beleza, de lanterneiros ou empregados domésticos. O setor de serviços na sociedade moderna envolve setores de alta tecnologia, design de novos produtos, de software para estes, ciências médicas e equipamentos para médicos, nanotecnologia, novos materiais e avanços nestes setores.

Como chegar até lá? 
Existe um único caminho, o caminho da educação. É nisto que o Mailson de Nóbrega vê o lado positivo da desindustrialização. Ou seja, o poder público e, melhor ainda, o clamor público deve exigir melhores escolas, desde o ensino fundamental, criação de mais e melhores escolas técnicas e profissionalizantes para formação de mão-de-obra condizente com as mudanças na vida social, econômica e industrial do terceiro milênio e das mudanças a que a sociedade moderna está submetida. Agora mesmo assisti no programa “Bom Dia Brasil” a notícia, de que este ano, até agora, o Ministério de Trabalho já outorgou 33.000 permissões de trabalho para profissionais estrangeiros!

Este é um fenômeno que não tem nada de novo. Os “tigres” asiáticos estão provando a cada dia o acerto desta política do futuro. As Coréias são um retrato vivo do funcionamento desta filosofia. A Coréia do Norte, com sua população na mais degradante miséria, morrendo de fome, presa às idéias obsoletas do socialismo, no Brasil brilhantemente representado pelos esquerdinhas, e a Coréia do Sul, praticando democracia e um capitalismo sadio, está cada vez mais presente no cenário econômico mundial. Até no Brasil, os Hyundiai e Kias já viraram sonho de consumo, sem falar nos eletrônicos.

E como fica a indústria de calçados brasileira neste contexto? 
Temos dois caminhos a seguir. Que, aliás, talvez sem se dar conta do ocorrido, já estão sendo seguidos pelos dirigentes das indústrias nacionais. 

  1. Um caminho é o caminho clássico o de “deixar estar para ver como fica” na doce esperança que “o governo tem que tomar alguma providência!” – 
  2. e o outro já trilhado pelos empresários antenados com os tempos atuais, que já trilham caminhos independentes sem esperar por uma bóia salva-vidas que não virá.

Estes caminhos são fáceis de identificar, embora não tão fáceis de implantar, dada a natural resistência humana de sair da zona de conforto e enfrentar situações novas para as quais não existem parâmetros de experiências passadas. Ou, alguém tem coragem de dirigir pelo retrovisor?   

Mas quais são especificamente os caminhos a nos levar para um Porto Seguro deste milênio?  

  • Enxugar as fábricas e introduzir uma gestão lean como os engenheiros de produção da nova geração adoram dizer. 
  • Fazer uma pesquisa de mercado, mas uma pesquisa real, não baseada nas informações viciadas dos representantes. 
  • Fortalecer a marca por todos os meios de comunicação disponíveis. Originalidade na criação. 
  • Preenchimento de nichos de mercado mal ou não atendidos. Adotar tecnologias e materiais de ponta. 
  • Selecionar com critério e treinar constantemente os colaboradores. Sacrificar a quantidade em favor da qualidade e maior valor agregado.

Atendida esta parte, que venha a desindustrialização! Nos vamos sobreviver, atendendo o crescente setor de serviços, dono de maior poder aquisitivo e mais seletivo quanto à qualidade e originalidade de produtos. Não resta dúvida, é um desafio enorme. Mas de há muito sabemos que para a indústria também se aplica a Lei do Charles Darwin – só os mais capazes, preparados e resistentes sobreviverão!

Zdenek Pracuch
10/09/12

fonte: http://www.pracuch.com/tec_desindust.html

O lado bom da desindustrialização - MAÍLSON DE NÓBREGA


REVISTA VEJA

     A Revolução Industrial transformou a Inglaterra na maior potência do século XIX. Por isso, a industrialização passou a ser vista como o meio para alcançar padrões superiores de desenvolvimento. Até hoje, "país industrializado" é sinônimo de país rico. Assim, no século XX, a industrialização foi prioridade mundo afora. Ainda hoje, a ideia de que a indústria é o centro dinâmico da economia povoa muitas mentes, para as quais o setor é a base do crescimento. A ele caberia disseminar o progresso técnico, irradiando efeitos para a frente e para trás na cadeia produtiva.
     Fala-se em desindustrialização nociva ao Brasil, mas vários estudos descartam a ideia. Regis Bonelli e Samuel Pessôa, em artigo publicado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (2010), constatam o declínio da participação da indústria no PIB - de 36% em 1985 para 16% em 2009 -, mas mostram que se trata de fenômeno mundial. A nossa participação é que era excessiva. por causa do fechamento da economia. Recentemente, a indústria nacional tem sofrido perdas alarmantes de competitividade, mas a explicação básica é conhecida: salários acima da produtividade e piora do "custo Brasil" (sistema tributário caótico, legislação trabalhista anacrônica, infraestrutura deteriorada e burocracia excessiva).      
      A perda de participação da indústria em todo o mundo aumenta, naturalmente, a dos serviços, que é de quase 80% do PIB nos países desenvolvidos. No Brasil, os serviços saltaram de 53% do PIB em 1990 para 67% do PIB em 201 1. Muitos se preocupam, pois acham que os serviços não geram ganhos relevantes de produtividade, que é a fonte essencial da elevação do potencial de crescimento. Esse raciocínio vale para serviços prestados aos consumidores, como os de cabeleireiro, motorista, empregado doméstico e semelhantes. mas não é sempre assim.
      De fato, embora a indústria continue importante, os serviços assumirão a liderança que a ela pertenceu, na geração de empregos e produtividade, da Revolução Industrial até meados do século XX. Já é assim na economia americana, conforme provou Enrico Moretti, da Universidade da Califórnia em Berkeley, no livro The New Geography of Jobs (2012). Para ele. a geografia do emprego tem mudado profunda e irreversivelmente nos Estados Unidos. Os eixos de inovação em serviços são as novas engrenagens da prosperidade. Eles envolvem os setores de alta tecnologia: design e software de produtos como o iPhone e o iPad, tecnologia de informação, ciências médicas, robótica, equipamentos médicos, novos materiais e nanotecnologia. A produtividade cresce nesses setores graças ao avanço tecnológico.
       Pesquisas de Moretti mostram que nos Estados Unidos um emprego criado nos setores de alta tecnologia gera outros cinco. Na indústria, essa relação é de apenas um para 1,6. Os centros de alta tecnologia demandam relativamente mais profissionais de nível universitário, de alta qualificação e maiores salários. A renda mais elevada aumenta a procura por serviços de médicos, engenheiros, arquitetos, personal traineis e outros, como os ligados ao lazer e ao turismo. Esses profissionais ganham mais do que seus pares que trabalham em regiões desprovidas desses centros.
      Áreas de alta tecnologia - casos de Vale do Silício, Austin, Boston, San Diego, Nova York. Washington e Dallas - são aglomerações (clusters) dotadas de ecossistemas com oferta adequada de crédito, capitais, recursos humanos qualificados e serviços de elevada eficiência em propaganda, assessoria jurídica, consultoria de gestão, engenharia e expedição de produtos. A educação é a base da inovação nesses centros. Para Moretti, os mercados emergentes que investem bem em educação e inovam tenderão a trilhar o mesmo caminho. A China já produz mais patentes do que a Alemanha e a França. E o efeito. entre outros, de sua excelente política educacional.
      O Brasil precisa de reformas para aumentar a competitividade da indústria e preparar-se para competir nos promissores segmentos dos serviços. Isso exige uma revolução na educação, nas instituições e, assim, no ambiente de negócios. Preferimos, todavia, reeditar políticas industriais de uma época que passou.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

FICHAMENTO CRÍTICO DE PARTE DO TEXTO DA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL- PNAS

1.    ANÁLISE SITUACIONAL


A assistência como um dos pilares da proteção social é uma situação nova e diferenciada no Brasil onde procura nas camadas sociais onde e quando implantar as políticas públicas de assistência. O que leva em consideração as pessoas as suas circunstancias e seu núcleo de vivencia (comunidade ou família). Isso significa dizer que que há uma seletividade e focalização e fragmentação das ações para as demandas que tem em sua raiz em comum a questão social que é a distribuição desigual da riqueza socialmente produzida.
Quando se relaciona os territórios focaliza e fragmenta ainda mais as ações assistenciais e na pior hipótese transformar essas ações localizadas em ações clientelistas para promoção política dos velhos currais eleitorais que ainda funcionam em diversas partes, principalmente nas mais afastadas dos grandes centros. Colocar como genérico as demandas do ponto de vista nacional é ao mesmo tempo uma tentativa de desviar a atenção da apropriação privada dos bens e recursos naturais nacionais (que não são poucos) e colocar as necessidades sociais como “natural” e as ações em relação a essas necessidades como uma forma de compensação das desigualdades sociais sem reflexão das reais motivações que levam as mais diversas mazelas sociais.
O duplo efeito da proteção social: supri necessidades e desenvolver capacidades de autonomia é a primeira vista um ponto positivo para justificar esse tipo de ação, no entanto quando se fala de acesso a bens e recursos se desconsidera as leis de mercado e principalmente a tendência do capitalismo atual que de um lado monopoliza o mercado tornando a previsão constitucional de livre iniciativa cada vez mais escassa e de outro através de avanços, entre este o tecnológico, aumentam a taxa de desemprego e promovem o sub emprego e transferem a mão de obra para o setor de serviços onde a remuneração sempre é desigual quando se leva em consideração o montante da riqueza socialmente produzida.
Conhecer a dinâmica que se processa no cotidianos de cada um dos mais 5.500 municípios é essencial para a aplicação de uma política, no entanto ainda não alcançam e talvez nunca chegará   a totalidade dos problemas que tem sua gênese no tipo de economia e política que se desenvolve no país. É evidente que há peculiaridades em cada um dos municípios se considerar suas dimensões em termos de população território e cultura. Mas há traços gerais que perpassa toda a nação como as deficiências na saúde educação e ainda a inflação que corroem os baixos salários. Esses fatores se considerados nas ações para além da assistência reduziria em escala nacional os índices de necessidades em cada realidade focalizada.

        2.    POLÍTICA PÚBLICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
Aqui mais uma vez se afirma o princípio da assistência que é de caráter não contributivo para prover os mínimo sócias para as necessidades básicas. A redação do texto constitucional de 1988 universalizado os direito e responsabilizando o Estado para tal e mais especificamente a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) que cria uma nova matriz para a política de assistência substanciam a Assistência Social como parte da ação planejada não só por parte do Estado, mas também da sociedade civil. Outro marco a destacar é a inserção da Assistência como parte do tripé da seguridade social legitimando as demandas da Assistência criando espaços públicos políticos e sociais para atendimento das demandas que são diversas. Neste ponto se considera que as demandas tem peculiaridades que se preconiza que espaços de promoção de direitos também ganham peculiaridades, no entanto, as políticas públicas são implementadas de cima para baixo e os espaços criados são reduzidos e não têm força para impor de maneira acentuada sua vez e voz para as ações direcionadas.
O discurso desenvolvido de haver uma forma monetária para garantir sobrevivência realça que a redistribuição de renda tem a força motriz da Assistência, reforçando a natureza econômica da “ordem social”. As necessidades sociais básicas como alimentação, vestuário e abrigo têm na sociedade capitalista a relação de mercado onde tais necessidades são produzidas distribuídas trocadas e comercializadas, mas nunca socializadas. Haverá sempre alguém que lucre mesmo que seja para atendimento das necessidades básicas. Aqui cabe uma ponderação feita de forma poética e musicada pelo grupo de rock nacional Titãs que cantou a gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte. Há de se falar para além de comer e vestir se divertir, ter acesso a cultura e a outros bens sociais que a vida oferece.
No quesito da segurança da vivencia familiar parece muito acertado em se manter os laços familiares pois o convívio familiar é essencial para o desenvolvimento de certos laços sociais que vão refletir na formação social do cidadão.

2.1.        Princípios
Os princípios elencados pelo LOAS de Supremacia do atendimento às necessidades sociais; Universalização dos   direitos sociais; Respeito à dignidade do cidadão; Igualdade de direitos no acesso ao atendimento; Divulgação ampla dos benefícios, são como os princípios constitucionais que ao meu ver ainda está no campo utópico de uma aplicação real de tais princípios.

2.2.        Diretrizes
As diretrizes também elencadas na LOAS entre elas: Descentralização político-administrativa, Participação da população, Primazia da responsabilidade do Estado na condução da Política de Assistência Social, Centralidade na família. Parece que algumas delas estão ainda aquém de serem alcançadas principalmente a da participação popular. O que parece contrastar com a primazia da responsabilidade do Estado na condução das políticas públicas, o que geralmente acontece cabendo a população aceitar o “favor” que o Estado oferece.

2.3.        Objetivos
Os objetivos de garantir os mínimos sociais e a universalização dos direitos, promovendo programas, projetos e benefícios; contribuindo com a inclusão e a equidade doe usuários bem como assegurar as ações no âmbito da familiar e comunitário são, em primeiro plano, objetivos que podem colaborar para inclusão social, no entanto se reflete que os objetivos serão alcançados se realmente houver de forma consistente acesso aos usuários aos programas de forma mais ampliada possível e a universalização dos direitos sejam materializadas no cotidiano de cada usuário.

2.4.        Usuários
[...] em situação de vulnerabilidade e riscos [...]. Essa definição está muito bem detalhada, em seguida no texto, considerando o contexto das expressões da questão social no Brasil.

2.5. Assistência Social e as Proteções Afiançadas

2.5.1. Proteção Social Básica
A proteção social básica que é voltada para situações de vulnerabilidade social é um serviço que deveria ser ampliado pois a vulnerabilidade social é grande visto a desigualdade econômica no país que vive há muitos anos sem atendimento aos quesitos mais básicos para vivência em sociedade.
Os programas de acolhimento convivência e socialização de famílias e de indivíduos é apenas uma projeção do que deveria haver de ação por parte do Estado pois é comum ver nas grandes capitais e até no interior situações de mendicância e de abandono inclusive idosos e crianças. Isso conforma dizer que as situações de vulnerabilidade não são alcançadas e a cada dia pessoas são lançadas nas mazelas sociais. O Benefício de Prestação Continuada (BPC) é uma prestação in pecúnia no valor de um salário mínimo dirigido aos idosos e deficientes é uma garantia mínima de sobrevivência dessa camada de necessitados porém é remediador de problema que tem sua origem na questão social pois muitos idosos que não tem aposentaria é fruto do desemprego que permeia o capitalismo em sua diferentes fases e por outro lado muitas pessoas com deficiências são vitimadas primeiro pela sociedade extremamente violenta depois de acidentes que poderiam ser evitados com políticas e efetivação de leis que regulam a sociedade, e por último com a melhoria do atendimento do sistema de saúde. O texto trata o BPC como processador de inclusão social, mas pelos apontamentos já feitos acima considero este também como processador de compensação das mazelas sociais que deveriam ter mais atenção para que num futuro não houvesse necessidade de tal programa social. Outro forma de compensação que o texto trata é os benefícios eventuais que ai sim tem pontos positivos pois são de caráter emergencial para atender por prazo determinado a situações de vulnerabilidade temporária. Outro ponto positivo no texto é a articulação desses programas com as demais políticas pública para garantir o desenvolvimento da família. Esses serviços são executados de forma direta nos Centros de Referência e Assistência Social (CRAS). Infelizmente vale dizer que muitos políticos de valem de tais programas para promover o assistencialismo eleitoreiro, principalmente nos pequenos munícipios que são a grande maioria na federação. O CRAS atua com famílias e indivíduos, consiste de uma intervenção de um conjunto articulado da assistência e outros órgãos estatais para manutenção dos vínculos familiares e comunitários considerando a diversidade de famílias (e culturas) existente na nossa sociedade, bem como a acesso aos direitos de cidadania inerentes aos usuários. Realiza, ainda, a inserção das famílias nos programas sociais locais e demais políticas públicas para uma tentativa de rompimento com o processo de exclusão social. Infelizmente o que se vê são ações focalizadas que na maioria das vezes, por motivos diversos, não conseguem envolver o usuário de forma mais abrangentes nas políticas sociais, para reverter totalmente a exclusão social. Entre o conjunto de serviços ofertados pela proteção básica estão: Programa de  Atenção Integral às Famílias; Programa de inclusão produtiva e projetos de enfrentamento da pobreza; Centros de Convivência para Idosos; Serviços para crianças de 0 a 6 anos; Serviços socioeducativos para crianças, adolescentes e jovens; Programas de incentivo ao protagonismo juvenil; Centros de informação e de educação para   o trabalho, voltados para jovens e adultos.

2.5.2. Proteção Social Especial
            A definição de exclusão social no texto como pobreza associada a desigualdade social e a perversa concentração de renda. Diz muito a respeito de que tipo de sociedade na qual estamos inseridos onde admite-se a pobreza a desigualdade social e concentração de renda em uma parcela dessa sociedade. A realidade mostra diversas violações de direitos em diversos membros da sociedade (jovens, idosos, deficientes e etc.). A redação é bem realista quando mostra que essa exclusão se concentra onde há maiores índices de desemprego e de baixa renda, reafirmando a natureza dessa expressão da questão social. No entanto o texto vai além dos aspectos econômicos e considera, também os contextos culturais e de participação social, uma vez que a exclusão social deixa a pessoa inativa em sua participação na sociedade. Considero, neste ponto, que a inclusão nas redes sociais de atendimentos dos excluídos deve prezar por uma ação que vai além dos serviços disponíveis e estratégias. Demandam para além de uma intervenção específica para reestruturação de grupo familiar, uma intervenção que vise emancipar os sujeitos de acordo com a ordem social vigente em que a exclusão é mais que social ou econômica, é exclusão, pois, política no sentido de participação popular nos direcionamentos políticos de nossa nação que é em sua maioria vinda de cima para baixo onde o Estado é antes do cidadão e não o contrário. Não é só dar abrigo aos desabitados e acolhimento aos comumente marginalizados, não é só um socorro social, estes itens já postos são de caráter emergencial para amenizar situações de extrema vulnerabilidade. Há de se considerar também uma forma de aproximação ao usuário para tirar da situação de risco e que tenha constância para fazer com que este suba nos degraus da escala social que existe e alcance, principalmente, com consciência política, o patamar de participação cívica com pleno de suas capacidades e direitos políticos econômicos e sociais. Em suma ir afora de tira-lo de estado de miséria ou risco social.

Proteção Social Especial de Média Complexidade
            Este tipo de serviço é prestado aos usuários com direitos violados mas onde o vínculo familiar não foi rompido e é efetivado no Centro de Referência Especializado da Assistência Social através de serviços diversos. Essa abordagem de intervenção considerando o não rompimento de vinculo familiar é boa abordagem, pois direciona esforços e recursos de forma concentrada, porém demanda uma inclinação do profissional na atuação para um laudo detalhado que especifique o não rompimento de vínculo, uma vez que o retrato do das relações familiares no Brasil são complexos e diversos onde se tem formações que são diversificadas da família tradicional patriarcal ou consanguínea.

Proteção Social Especial de Alta Complexidade           
Este tipo de serviço é de proteção integral visando garantir aos usuários, através de serviços diversos de acolhimento: moradia, alimentação, higienização e trabalho protegido para famílias e indivíduos que se encontram sem referência e, ou, em situação de ameaça, necessitando ser retirados de seu núcleo família. Aqui compreende-se que além dos direitos violados há quebra de vínculo familiar. Neste caso exige uma atuação articulada de acordo com a demanda especifica de casa caso concreto. O profissional deve manter, na sua área geográfica de atuação, conhecimento de outras entidades que podem contribuir para tal atendimento.

3. GESTÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NA PERSPECTIVA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – SUAS

3.1. Conceito e Base de Organização do Sistema Único de Assistência Social – SUAS
            O SUAS tem modelo descentralizados e participativo com a participação dos poderes nas esferas federal, estadual e municipal no sentido de descentralização das ações assistenciais com a integração da sociedade civil para efetivação das ações socioassitenciais. Deveria ser a materialização da LOAS para cumprir os objetivos almejados em tal lei, no entanto o que se verifica nos debates da categoria dos assistentes sociais é a precariedade de condições de atuação profissional para bom desempenho das atividades.
            O SUAS define e organiza os elementos para execução da política de assistência social e define os eixos estruturantes e de subsistemas entre esses: Matricialidade Sociofamiliar; Descentralização político-administrativa e Territorialização; Novas bases para a relação entre Estado e Sociedade Civil; Financiamento; Controle Social; O desafio da participação popular/cidadão usuário, entre outros. O SUAS, ainda, organiza os serviços sócio assistenciais conforme as referências: vigilância social, proteção social e defesa social e institucional. Essa forma de articulação e formatação dos serviços prestados pela assistência não pode cair na fragmentação e faturação tanto da implementação políticas assistenciais, como da próprias políticas. Infelizmente os relatos de profissionais atuantes é que existe a tendência pelo órgão gestor dessas políticas a ações segmentadas de caráter clientelista que torna texto um marco a ser alcançado e a implementação das políticas assistenciais para atendimento de uma parcela das pessoas que dela necessitam. Este olhar fica evidente quando vemos crianças, idosos e deficientes em estágio continuo de mendicância nas ruas da cidade.

           3.1.1. Matricialidade Sociofamiliar
             Neste ponto o texto reconhece existe transformações provenientes do trabalho e da economia que deu novo significado a composição familiar e seu papel na sociedade. Também reconhece que as fortes pressões que os processos de exclusão sociocultural geram sobre as famílias acentua as fragilidades e contradições. Neste ponto cabe uma reflexão bem direta a redação do texto porque primeiro fala só de exclusão sociocultural, não explicitando outros tios de exclusão como a econômica, a educacional, a política, a terra (nos casos dos indígenas), a de moradia (no caso movimento dos sem tetos urbanos e do crescimento desordenado de favelas), a de saneamento a de saúde etc. Em segundo fala de processos que fazem pressão, no entanto não deixa claro que processos são esses, porem com uma leitura teórico-marxista da sociedade capitalista reconhece que processo é esse: a contradição entre o capital e trabalho, onde o trabalho é cada vez mais coletivo, porém a apropriação do capital é cada vez mais privada.
            De volta ao texto, este coloca que a família é mediadora das relações entre sujeitos e coletividade e geradora de modalidades comunitária de vida, mas porém pode ser um espaço de conflitos. Isso é de fato um retrato do modelo de sociedade capitalista que é igualmente contraditória e conflitante. Outro fato já discutido alhures é que a nova formatação de família própria da sociedade moderna onde os laços vão além do consanguíneo envolvendo laços afetivos e, ou, de solidariedade. É de bom alvitre não olvidar que as relações de família estão dinâmicas de acordo com a sociedade moderna e que laços que unem pessoas vão além da relação de parentesco formal. Entidades governamentais reconhecem por exemplo a união formal de casal com simples declaração de união estável. O texto da Constituição Federal de 1988 em seu artigo 226 declara que a família é a base da sociedade e esta redação é seguida por textos infraconstitucionais como o Estatuto do Idoso; Lei Orgânica da Assistência Social entre outros. Porém como já citado existe uma dinâmica complexa e moderna na formatação familiar que urge uma reflexão sobre o conceito de família no sentido de garantia de direitos sociais. Por exemplo na Universidade Federal Rural do Semi-Arido para concessão de bolsas estudantil, no perfil sócio econômico do candidato a bolsa se considera como família o núcleo familiar que coabitam na mesma moradia. No Instituto Nacional de Previdência Social no decreto lei 3048  no artigo reconhece nos termos dor artigo 16 como dependentes e beneficiários:  I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado de qualquer condição, menor de vinte e um anos ou inválido; II - os pais; ou III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de vinte e um anos ou inválido. Já no Estatuto da Criança e Adolescente:

Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. Parágrafo único.  Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade (LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990).

            Como se vê a unidade familiar vai além de uma compreensão do senso comum é para garantia de direitos um desafios em busca de do que família em cada realidade concreta considerando leis, culturas e até crenças que as vezes confluem e as vezes divergem na concepção.
            O ponto hora discutido no texto sobre a matricialidade familiar pode servir apenas como reflexão inicial, mas uma aplicação em caso concreto demanda uma aproximação dialética da realidade histórica de cada sujeito envolvido bem como conhecimento jurídico e teórico para uma aplicação prática de direitos sociais através das políticas públicas.


Referências:

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 26/06/2014

______. Estatuto da criança e do adolescente: Lei federal nº 8069, de 13 de julho de 1990. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm >. Acesso em 26/06/2014

______. Estatuto do idoso: lei federal nº 10.741, de 01 de outubro de 2003. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm>. Acesso em 26/06/2014.

_______. DECRETO No 3.048, DE 6 DE MAIO DE 1999. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3048.htm>. Acesso em 26/06/2014.

_______.Resolução nº 145 de 15 de outubro de 2004. Política Nacional de Assistência

Social. (DOU 28/10/2004). Arquivo digital.

http://socialuern.blogspot.com.br/2014/07/fichamento-critico-de-parte-do-texto-da.html

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

PISO SALARIAL DE ASSISTENTES SOCIAIS - Pela aprovação do projeto de lei n.º 5278/2009 - PL


Por que assinar é importante?
Esse é um direito pelo qual a categoria de Assistentes Sociais no Brasil, que tanto luta cotidianamente para garantir o acesso a direitos e a políticas públicas pela população usuária do serviço social, está na luta, diante do grande número de profissionais que recebem salários baixos, em um sistema capitalista que precariza as condições de trabalho. Sigamos na luta pelo piso salarial da categoria.


sábado, 10 de setembro de 2016

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

A crise da sociedade do trabalho - fim da centralidade ou desconstrução do trabalho?

Ricardo Antunes

O autor inicia o texto falando que na contemporaneidade é quase comum falar na "desaparição do trabalho", podendo ser introduzido a problemática da chamada crise da sociedade do trabalho, onde cita os principais formuladores da chamada "Sociedade do Trabalho".
Faz uma distinção analítica com provocação crítica no que se refere à questão trabalho, mostrando a influência weberiana e a marxista, onde na weberiana as mudanças em curso teria iniciado ou realizado uma destruição da "ética positiva do trabalho" e os marxistas dizem não ter sentido falar em ética positiva do trabalho no sistema capitalista, porque Marx tem uma concepção negativa do trabalho sob o capital.
De acordo com o autor, se o plano gnosiológico opera a desconstrução ontológica do trabalho, paralelamente, no mundo real, este se reconverte em uma das mais explosivas questões da contemporaneidade, isso porque o trabalho ocupa a centralidade, por isso vê como equivoco, críticos falarem do desaparecimento do trabalho baseado apenas eurocentricamente, pois é preciso lembrar que 2/3 da humanidade que trabalha, está no chamado "Terceiro Mundo" e que também existem as complexificações decorrentes da nova divisão internacional do trabalho na era do capital mundializado, onde o mundo produtivo e de serviços ainda precisa de uma dada forma de trabalho, seja ele material, produtivo ou imaterial, ou seja, a própria existência do capital financeiro supõe uma produtividade para se embricar.
Em seguida o autor emblatiza algumas teses que propagam o fim do trabalho ou mesmo o fim de sua centralidade, dizendo que existem interações entre o trabalho vivo (humano) e o trabalho morto (máquina), que embora venha ocorrendo cada vez mais a redução do proletariado e ampliação do trabalho intelectual na chamada era da empresa enxuta, é difícil a substituição total do trabalho pela ciência, porque sempre vai haver o trabalho produtivo e o trabalho improdutivo, o manual e o intelectual, o material e o imaterial, bem como a divisão sexual do trabalho.

Porque a lógica do capital é excluir uma grande parcela da força humana que trabalha para que seu processo de acumulação e valorização se expresse, assim como o capital torna suas mercadorias "supérfluas" sem as quais não sobrevive, o mesmo faz com sua mercadoria força de trabalho sem a qual também não sobrevive, e isso traz enormes consequências no mundo do trabalho como por exemplo: a diminuição do proletariado fabril; o desaparecimento de algumas profissões; o incremento dos assalariados médios e de serviços; a exclusão de jovens e idosos; o trabalho infantil; a divisão sexual do trabalho com a desvalorização da mão-de-obra feminina; o terceiro setor; Avanços na flexibilização e fragmentação do trabalho devido acrescente internacionalização do capital. O sistema capitalista necessita cada vez menos do trabalho estável e cada vez mais do trabalho parcial part-time, terceirizado, precarizado, exigindo cada vez mais a qualificação dos trabalhadores. O Capital não pode se reproduzir sem o mínimo de trabalho vivo, embora o trabalho morto domine o trabalho vivo, onde essa transferência de saber para as máquinas a tempo a empresa enxuta e o aumento da alienação do trabalho, mesmo assim a sociedade continua fundada no trabalho.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Serviço Social

É uma profissão de caráter sociopolítico, crítico e interventivo, que utiliza um instrumental científico multidisciplinar das Ciências Humanas e Sociais para análise e intervenção nas diversas refrações da "questão social", isto é, no conjunto de desigualdades que se originam do antagonismo entre a socialização da produção e a apropriação privada dos frutos do trabalho. Inserido nas mais diversas áreas (saúde, previdência, educação, habitação, lazer, assistência social, justiça, etc) com papel de planejar, gerenciar, administrar, executar e assessorar políticas, programas e serviços sociais, o assistente social efetiva sua intervenção nas relações entre os homens no cotidiano da vida social, por meio de uma ação global de cunho socioeducativo e de prestação de serviços.
É uma das poucas profissões que possui um projeto profissional coletivo e hegemônico, denominado projeto ético-político, que foi construído pela categoria a partir das décadas de 70 e 80 e que expressa o compromisso da categoria com a construção de uma nova ordem societária, mais justa, democrática e garantidora de direitos universais. Tal projeto tem seus contornos claramente expressos na Lei 8662/93, no Código de Ética Profissional de 1993 e nas Diretrizes Curriculares.
A profissão de assistente social surgiu no Brasil na década 30. O curso superior de Serviço Social foi oficializado no país pela Lei 1889 de 1953. Em 27 de agosto de 1957, a Lei 3252, juntamente com o Decreto 994 de 15 de maio de 1962, regulamentou a profissão. Em virtude das mudanças ocorridas na sociedade e no seio da categoria, um novo aparato jurídico se fez necessário de forma a expressar os avanços da profissão e o rompimento com a perspectiva conservadora. Hoje a profissão encontra-se regulamentada pela Lei 8662, de 07 de junho de 1993, que legitima o Conselho Federal de Serviço Social e Conselhos Regionais. E, fundamentalmente, define em seus Artigos 4º e 5º, respectivamente, competência e atribuições privativas do assistente social.
Além da lei, contamos também com o Código de Ética Profissional que veio se atualizando ao longo da trajetória da profissão. Em 1993, após um rico debate com o conjunto da categoria em todo o país, foi aprovada a quinta versão do Código de Ética Profissional, instituída pela Resolução 273/93 do CFESS.
Código de Ética Profissional representa a dimensão ética da profissão, tendo caráter normativo e jurídico. Ele delineia parâmetros para o exercício profissional, define direitos e deveres dos assistentes sociais, buscando a legitimação social da profissão e a garantia da qualidade dos serviços prestados. Ele expressa a renovação e o amadurecimento teórico-político do Serviço Social e evidencia em seus princípios fundamentais, o compromisso ético-político assumido pela categoria.

Trajetória do Serviço Social
A emergência e institucionalização do Serviço Social como especialização do trabalho ocorre nos anos 20 e 30, sob influência católica européia. Com ênfase nas idéias de Mary Richmond e nos fundamentos do Serviço Social de Caso, a técnica está a serviço da doutrina social da igreja.
Nos anos 40 e 50 o Serviço Social brasileiro recebe influência norte-americana. Marcado pelo tecnicismo, bebe na fonte da psicanálise, bem como da sociologia de base positivista e funcionalista/sistêmica. Sua ênfase está na idéia de ajustamento e de ajuda psico-social. Nesse período há o início das práticas de Organização e Desenvolvimento de Comunidade, além do desenvolvimento das peculiares abordagens individuais e grupais. Com supervalorização da técnica, considerada autônoma e como um fim em si mesma, e com base na defesa da neutralidade científica, a profissão se desenvolve através do Serviço Social de Caso, Serviço Social de Grupo e Serviço Social de Comunidade.
Nos anos 60 e 70 há um movimento de renovação na profissão, que se expressa tanto da reatualização do tradicionalismo profissional, quanto de uma busca de ruptura com o conservadorismo. O Serviço Social se laiciza e passa a incorporar nos seus quadros segmentos dos setores subalternizados da sociedade. Estabelece interlocução com as Ciências Sociais e se aproxima dos movimentos “de esquerda”, sobretudo do sindicalismo combativo e classista que se revigora nesse contexto.
O profissional amplia sua atuação para as áreas de pesquisa, administração, planejamento, acompanhamento e avaliação de programas sociais, além das atividades de execução e desenvolvimento de ações de assessoria aos setores populares. E se intensifica o questionamento da perspectiva técnico-burocrática, por ser esta considerada como instrumento de dominação de classe, a serviço dos interesses capitalistas.
Com os “ventos democráticos” dos anos 80, inaugura-se o debate da Ética no Serviço Social, buscando-se romper com a ética da neutralidade e com o tradicionalismo filosófico fundado na ética neotomista e no humanismo cristão. Assume-se claramente no Código de Ética Profissional, aprovado em 1986, a idéia de “compromisso com a classe trabalhadora”. O Código de Ética Profissional traz também outro avanço: a ruptura com o corporativismo profissional, inaugurando a percepção do valor da denúncia (inclusive a formulada por usuários). No âmbito da formação profissional, busca-se a ultrapassagem do tradicionalismo teórico-metodológico e ético-político, com a revisão curricular de 1982. Supera-se, na formação, a metodologia tripartite e dissemina-se a idéia da junção entre a técnica e o político. Há ainda a democratização das entidades da categoria, com a superação da lógica cartorial pelo Conjunto CFESS/CRESS, que conquista destaque no processo de consolidação do projeto ético-político do Serviço Social.
Nos anos 90, se verificam no âmbito do Serviço Social os efeitos do neoliberalismo, da flexibilização da economia e reestruturação no mundo do trabalho, da minimalização do Estado e da retração dos direitos sociais. O Serviço Social amplia os campos de atuação, passando a atuar no chamado terceiro setor, nos Conselhos de Direitos e ocupa funções de assessoria, entre outras. Discutindo a sua instrumentalidade na trajetória profissional, ressignifica o uso do instrumental técnico-operativo e cria novos instrumentos, como mediação para o alcance das finalidades, na direção da competência ética, política e teórica, vinculada à defesa de valores sociocêntricos emancipatórios. Partindo do pressuposto da necessidade da capacitação continuada, o Serviço Social busca a ultrapassagem da prática tecnicista, pretensamente neutra, imediatista ou voluntarista.
Nos anos 2000 essa conjuntura provoca novas disputas em torno da questão social e do papel a ser cumprido pelas políticas sociais, verifica-se a proliferação de cursos de graduação privados de baixa qualidade, implementação do ensino de graduação à distância, com prejuízo ao ensino presencial. Reduz-se a capacidade de mobilização em torno de projetos coletivos, o que gera novos desafios para a luta pela consolidação dos direitos da população usuária dos serviços prestados pelos assistentes sociais.
Esses elementos apontam para a necessidade de fortalecer o projeto ético-politico profissional, que vem sendo construído pela categoria há mais de três décadas.

Texto extraído do site do CRESS-RJ.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

As pessoas são transitórias

Apenas refletindo…
“As pessoas são transitórias”, disse certa vez um amigo meu… Colega na verdade, que por sinal foi também uma pessoa transitória em minha vida… E, de fato, elas são mesmo. Vão e vem… E vão.
Chega a ser engraçado como certas relações parecem que vão durar pra sempre e, em dado momento, elas já não existem mais.  O pra sempre sempre acaba… Ou muda de “pra sempre” para “boas lembranças”… Isso aconteceu comigo, claro, muitas vezes e eu sempre me questionei se a culpa era minha… As pessoas transitórias costumam culpar o tempo. Ou a falta dele. Pobre tempo, sempre sendo responsabilizado pela falta de amor das pessoas. “Não tenho tempo”, “Minha vida é muito corrida”, “Nossa, há quanto tempo”.  Sabe por que grande parte das relações se esgotam com o tempo? Porque as pessoas não fazem questão de cuidar delas, das relações. As pessoas não se preocupam em manter contato, em manter a amizade. As pessoas não se preocupam em dizer “eu te amo e quero que saiba disso”. e por conta disso, as pessoas acabam transitando entre as vidas das outras pessoas. Não que isso seja ruim. Cada época da nossa vida exige de nós novas relações, novas amizades… faz parte… eu acho.  Mas ainda assim, não custa nada, ligar de vez em quando pra dizer “Oi… ainda me lembro de você”.
Ou será que custa?
Acho que quem decide essa transitoriedade é, na verdade, a gente mesmo.  A gente escolhe quem fica e quem a gente deixa ir… Não é?
TEXTO EXTRAÍDO DO BLOG: http://www.meninasimprovaveis.com.br/por-mariana-copertino/as-pessoas-sao-transitorias



As comemorações do Dia do/a Assistente Social de 2016 debatem e homenageiam os 80 anos do Serviço Social no Brasil.

A campanha tem o intuito de valorizar a construção histórica desta profissão que se “inscreveu” na sociedade brasileira, reafirmando sua importância no cotidiano da classe trabalhadora, usuária da profissão, e também na luta, com outros sujeitos políticos, por outra sociabilidade.

O Serviço Social é uma profissão que foi capaz de se reinventar e se reconceituar, buscando romper com o conservadorismo do seu surgimento e com o tecnicismo do seu desenvolvimento. Uma profissão que reconstruiu seus referenciais teóricos e metodológicos, analisando a sociedade capitalista, a desigualdade e a violação de direitos dela decorrentes. Uma profissão que, impulsionada pelo movimento de redemocratização do país, reescreveu seu Código de Ética, adotando valores que foram se aperfeiçoando e se tornaram princípios que, hoje, almejam alcançar, no horizonte, um projeto societário sem exploração e dominação de classe. Uma profissão que vem se transformando, ao longo dos anos, para contribuir não só no combate à desigualdade, mas também na construção de uma sociedade justa e igualitária.

O material reúne duas imagens emblemáticas para a profissão: a primeira retrata as pioneiras do Serviço Social, na década de 1930, e a segunda mostra a manifestação de assistentes sociais em Brasília (DF). 

CRÉDITOS: http://www.cfess.org.br/

terça-feira, 12 de abril de 2016

Aos 82 anos, médica se arrisca no mar para levar assistência aos habitantes de quatro ilhas

Aos 82 anos, médica se arrisca no mar para levar assistência aos habitantes de quatro ilhas
Dona Joana é a única médica que presta atendimento às comunidades das quatro ilhas | foto: Kristiano Simas/Agência Assembleia
Ondas, ventos fortes, chuva e sol. O perigo que ronda as embarcações que se arriscam na travessia em ‘mar aberto’ entre o porto do povoado Pau Deitado, no município de Paço do Lumiar, e o arquipélago das Marianas, no extremo norte do estado, é de causar temor a qualquer mestre de embarcação experiente. Mas não para a médica Joana Ramos da Rocha, de 82 anos. Medo é um sentimento que nunca existiu e enfrentar esse mesmo percurso todos os meses é mais que um desafio, é um compromisso de vida.

Dona Joana tem um motivo muito especial para se lançar ao mar na perigosa travessia de barco pelo menos uma vez por mês. Ela é a única médica que presta atendimento às comunidades de pescadores que habitam Carrapatal, Santana, Jurucutuoca e Pedras, quatro ilhas do arquipélago das Marianas, no município de Humberto de Campos, a cerca de 45 milhas de São Luís.    
São 12h20 do dia 16 de janeiro de 2016. No Porto do Pau Deitado, o barco ‘Cavalo Marinho’, uma daquelas embarcações de pesca tipicamente maranhense, aguarda desde cedo a chegada da sua principal passageira. Joana Ramos chega sorridente e, com muita disposição, sobe no barco se equilibrando em cordas. Começa a viagem que demorará cerca de seis horas até a sua primeira parada, que é a Ilha de Carrapatal.
A travessia é perigosa. No início da viagem, o ‘Cavalo Marinho’ enfrenta ondas traiçoeiras e os fortes ventos da baía de São José. Etapa vencida, o barco segue em frente singrando agora as águas do Oceano Atlântico.
Joana não se abala. Durante toda a viagem ela leva na mão esquerda a inseparável maleta branca; na direita o rosário que segura com força entre os dedos e nos lábios pintados de batom vermelho um cativante sorriso. No coração vai prosseguindo a viagem motivada por uma intensa vontade de servir.
A médica viaja sentada no convés do barco com o olhar firme no horizonte. Um mar a perder de vista e uma paisagem que ela diz conhecer há 43 anos realizando este mesmo percurso de São Luís até as ilhas do município de Humberto de Campos.
No balanço das altas ondas que não dão trégua e jogam muita água dentro do barco, Joana cantarola cânticos religiosos ou músicas da sua juventude. Os dedos sempre dedilhando o seu rosário.
 “Não tenho medo algum. O que sinto é uma enorme vontade de servir. Sei que muitas pessoas estão além deste mar esperando a minha chegada. Eu tenho uma missão nesta vida e exerço a medicina como um sacerdócio”, relata.
Jacqueline Heluy/ Agência Assembleia

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Dia Mundial das Boas Ações: Informações sobre o evento

Neste fim de semana, o Brasil vai sediar o Dia Mundial das Boas Ações, um evento que acontece simultaneamente em 70 países. Neste ano, o Brasil será a capital do evento. A ideia é incentivar a sociedade a praticar boas ações. Ao todo há 250 ONGs cadastradas neste evento e a previsão é de mais de 300 ações, como por exemplo: estimular a limpeza das nossas cidades.
O evento de Boas Ações acontece em todo o Brasil durante esta sexta-feira, 8 de abril, além dos dias 9 e 10/4.  Especialmente no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília mais de 100 ONGs e participantes voluntários vão incentivar e convidar a sociedade a praticar boas ações. 



Confira mais informações no site: https://www.atados.com.br/dia-das-boas-acoes

segunda-feira, 4 de abril de 2016

A PRIORIZAÇÃO DA FAMÍLIA NA AGENDA DA POLÍTICA SOCIAL

Maria do Carmo Brant de Carvalho

A família é o primeiro sujeito que referencia e totaliza a proteção e a socialização dos indivíduos. Independente das múltiplas formas e desenhos que a família contemporânea apresente, ela se constitui num canal de iniciação e aprendizado dos afetos e das relações sociais.
Para abordar o tema, foi escolhido um caminho reflexivo que retorna as características que formatam a política social no Brasil, seguido de um olhar sobre o cotidiano das famílias brasileiras que vivem sob o signo de pobreza. Por fim, de forma didática, discorre-se sobre as atenções básicas que uma política social voltada à família deve contemplar.
Retomar a família como unidade de atenção das políticas públicas não é um retrocesso a velhos esquemas. É, sim, um desafio na busca de opções mais coletivas e eficazes na proteção dos indivíduos de uma nação.


Uma breve contextualização da política social no Brasil

A política social no Brasil não tem logrado alterar o quadro de pobreza e exclusão de parcela significativa da população brasileira. Ao contrário, observa-se a cada década a ampliação das taxas de desigualdade social, ao mesmo tempo em que a concentração de renda atinge índices insuportáveis.
A Campanha Nacional de Combate à Fome e à Miséria que marcou o ano de 1993 ainda não conseguiu reverter a direção da política social brasileira. Embora as questões da vida e da cidadania estivessem presentes nos discursos, a mobilização alcançada resultou numa atuação centrada na distribuição de cestas alimentares. Reproduziu a cultura tradicional de enfrentamento da pobreza pela via assistencialista e tutelar.
O modus operandi arraigado nas diversas faces da política social brasileira resistiu às pautas mais ambiciosas presentes na campanha, apesar da aglutinação de esforços significativos e diversificados que ela capitalizou.
O reconhecimento e a garantia de direitos sociais acabou enviezando o olhar para o contexto do fetiche capitalista da mercadoria. Passou-se a fragmentar os indivíduos na forma de atenção pública.

Neste modelo três processos ganharam força:
·         os direitos do individuo de “per si” (criança, mulher, negro, idoso...);
·         a fragmentação dos indivíduos em necessidades transformadas em direitos de “per si” : direito a saúde, educação, transporte...;
·         a psicologização  das relações sociais.

Nos demais processos destacaram-se como base de luta os direitos sociais e, como protagonistas, os movimentos sociais e as organizações sindicais. O  trabalho com famílias foi considerado na maioria das vezes como uma prática conservadora e disciplinadora sob o rótulo do planejamento familiar. A atenção à família se tornou periférica. Quanto existente, não era ela o alvo, mas sim a mulher, o trabalhador, a criança.
Neste caldo, o terceiro processo mencionado se introduziu carregado de magia: a psicologização das relações sócias. Os indivíduos e micro-coletivos, como a família, fragmentados num somatório de necessidades, ganhavam a identidade na carência –de bens e serviços e de afetos.
Finalmente, a política social no Brasil guarda ainda o ranço de um externo centralismo. Embora exaltem-se as vantagens da descentralização e da municipalização das atenções básicas ofertadas por essa política, ela não vem ocorrendo no ritmo esperado. As estruturas do Estado mostram-se resistentes a adotar o novo reordenamento político institucional que contempla uma partilha efetiva de competências e atribuições entre as três esferas de governo (municipal, estadual e federal).
A crise do “Welfare State”, o déficit público, o individualismo crescente, a institucionalização das necessidades individuais/grupais e o desempenho estrutural introduzem hoje velhos e novos desafios à politica social brasileira e mundial.
Neste contexto, ressurge a família e a comunidade. Primeiro, a família como unidade econômica e direito da criança. Segundo, a comunidade como necessidade de o Estado Nacional com ela partilhar as responsabilidades e os custos das políticas públicas de proteção e reprodução social de seus cidadãos. Este ressurgimento reflete ainda uma certa consciência do esgotamento da opção – quase única – pelo indivíduo, centro da atenção pública. Não é por acaso que em 1994 viveremos o Ano Internacional da Família e possivelmente um outro ano será ancorado na ideia da “comunidade”.


A sobrevivência cotidiana das famílias empobrecidas

Vive-se no Brasil um verdadeiro “apartheid” entre ricos e pobres. Não se percebe, mas este “apartheid” é notório, especialmente nas regiões metropolitanas, onde a maioria da população vive confinada em cortiços, favelas e casas precárias das periferias, excluídos não apenas do acesso a bens e serviços, mas também do usufruto da própria cidade. A pequena população rica vive em bairros que são verdadeiros condomínios fechados com todos os bens e serviços disponíveis.
A solidariedade conterrânea e parental é condição primeira para a sobrevivência e a existência de famílias em situação de pobreza e discriminação. Pode-se dizer que vivem em comunidades cuja identidade é marcada pela carência, sangue e terra natal.
A solidariedade parental e conterrânea e expressa cotidianamente através dos empréstimos para pagar uma prestação, uma conta de luz ou água, para o táxi (por alguém da família que ficou doente e precisa ir ao hospital...); alguém que tome conta das crianças em uma emergência. Estas são situações a que todos estão sujeitos e a única forma de enfrenta-las é com a solidariedade.
O grupo familiar extenso, o agregado de parentes e conterrâneos, ou a pequena comunidade rural cria vínculos e sistemas próprios que garantem os padrões de reprodução social.
A vida do grupo familiar maximiza as chances de garantir a sobrevivência do membros que têm pequenos rendimentos, mesmo que no conjunto a renda “per capita” tenha seu valor rebaixado.
Mas a família de baixa renda também assimila, nas megacidades brasileiras, novos valores e padrões de reprodução social: gerar menos filhos; a mulher como força de trabalho; a diferenciação entre chefe e provedor.
Na sobrevivência cotidiana destas famílias observa-se outros fator importante: uma dependência estratégica da chamada solidariedade apadrinhada.
Observa-se aqui um processo de usufruto de bens de consumo de “segunda ou terceira mão”: a patroa que substitui a geladeira doando à sua empregada a anterior; já tendo uma geladeira, substitui-a pela recém-ganha, transferindo a velha para um parente que não a tem. De fato, roupas, utensílios, eletrodomésticos ou mesmo ajuda financeira para a compra de um lote ou cesta de materiais de construção advêm muitas vezes desta sociedade-providência fluida, mas presente na agenda das estratégias de reprodução da família.
Isto explica um modo de reciclagem dos bens de consumo. Demonstra igualmente que a cultura do apadrinhamento perpetua no cenário da modernidade brasileira. As classes média e alta parecem preferir ajudar apadrinhados concretos que financiar serviços social públicos.
A solidariedade missionária é um terceiro componente nesta difícil e precária sobrevivência das famílias empobrecidas.
A Igreja Católica, Protestante, Espirita ou seitas afro-brasileiras compõem o projeto de reprodução social das famílias empobrecidas. A Igreja é sempre uma porta que acalenta a esperança. Através de seus programas pastorais representa um suporte espiritual, mas especialmente um suporte emocional, afetivo e material. É a escola para aprender a viver na cidade, um canal de organização para a conquista de serviços públicos, um canal de convivência a partir do culto; um espaço de lazer, de cura dos doentes e de uma assistência social que, embora muitas vezes paliativa, é próxima e mais acessível.
A Igreja se faz presente no cotidiano da vida das famílias e comunidades. É a instituição com maior credibilidade para está população. É através dele que fluía sociedade-providência organizada, que cria serviços assistenciais e de defesa para a imensa demanda de justiça que esta população expressa. É também contraditoriamente, muitas vezes, o amortecedor da revolta e indignação com a injustiça. Por isso, em muitos casos, as obras da igreja criam uma cumplicidade com a pobreza, reproduzindo o “apartheid” social que se assiste.
Mas, sem dúvida, é a ação de algumas igrejas que estabelece princípios facilitadores de valorização de um trabalho coletivo como condição de mudança.
São, na maioria das vezes, as instituições religiosas, mais do que os partidos políticos ou os agentes públicos, que formam as bases para o salto organizativo da população, expresso nos movimentos de luta por moradia, saúde, saneamento, transporte etc.
É neste processo que nascem projetos coletivos para satisfação de necessidades comuns.
Estas solidariedades e processos são vividos, no entanto, com contradições e conflitos próprios ao confinamento a que estão submetidos.
Os barracos de favela, os cômodos de cortiços, os bairros periféricos que não garantem privacidade, acabam por esgarçar os vínculos maiores da família nuclear.
O direito à privacidade não é sequer sonhados pelos grupos familiares empobrecidos. Este quadro se completa pela ausência de usufruto de bens e serviços mínimos à sobrevivência material (saneamento básico, coleta de lixo, transporte, trabalho...)
Outro elemento esgarçador das relações é a paisagem/condições de confinamento homogêneo da pobreza – amontoado de barracos e de habitações do tipo Pró-Morar (BNH), paisagem típica do “apartheid”. É a igualdade homogeneizada na miséria. Todos que ali convivem têm um mesmo signo: salários baixos, exclusão, discriminação.
Há que se destacar também a exclusão persistente de bens culturais neste cenário de “apartheid” social. Com a ausência de trocas culturais e sem acesso a serviços de educação, lazer e cultura, as famílias possuem poucas ferramentas para romper com sua identidade de excluídos.
Diante desta clara exclusão e de uma sobrevivência marcada pela submissão ao “apartheid” social, algumas constatações ficam claras.
Forjada na cultura da subalternidade, a submissão dos indivíduos se transforma em sina. Com ela convivem numa alienação consentida. O uso da bebida alcoólica pelos adultos ou a cola de sapateiro por crianças/adolescentes parece ser um vício compulsório à vida desta população, seja porque já enganou ou engana a fome, seja porque, na exclusão e na discriminação a que estão submetidos, só lhes resta alienar-se cada vez mais.
A ausência de privacidade, ou melhor, a co-habitação com a promiscuidade nos 365 dias do ano, ano após ano.
As condições do cotidiano familiar aqui descritas querem fundamentar um novo olhar sobre os chamados maus-tratos provocados pelas famílias em suas crianças. Em geral, enfatizam-se os altos índices de maus-tratos produzidos pela família, culpando –as “tout-court”. Não se aprofunda sobre esta paisagem de violência e maus-tratos sofridos cotidianamente pela própria família.

A família brasileira na agenda da politica social
Sem dúvida, é preciso constatar que a família tem sido uma ilustre desconhecida nas diretrizes e programas propostos pela política social brasileira.
Em realidade, as atenções hoje prestadas à família são extremamente conservadoras, inercias e só justificáveis no contexto da cultura tutelar dominante. Exemplo diste é a enorme resistência a programas de complementação de renda familiar já existentes como prática social há dezenas de anos em vários países do mundo. Prefere-se ainda a distribuição de ajudas em espécie do tipo cesta alimentar, enxovais de bebê, cesta de medicamentos etc.
Outro exemplo é a nítida preferência por abrigar em “orfanatos” e casas-abrigo crianças abandonadas ou em risco de abandono.
Programas de guarda de crianças em famílias substitutas na própria comunidade são opções correntes em vários países. Este tipo de guarda, opção mais recomendável para a criança e menos onerosa para o Estado, não ocorre por resistência ao usual subsídio financeiro destinado diretamente e supervisionado tecnicamente, como ocorre em programas desta natureza em outros países.
Esquece-se que o Estado tem um papel normatizador, de assessoria e de controle. Não se raciocina em termos de custo/benefício e da busca de resultados mais eficazes. Neste caso em particular, uma criança em abrigo custa geralmente mais de dois salários mínimos por mês e seu uso generalizado fere princípios básicos estabelecidos em Estatuto da Criança e do Adolescente, referentes ao direito da criança à convivência familiar e comunitária.
Estes exemplos querem apenas instigar a reflexão sobre a atenção às famílias no Brasil.
De fato, os abandonados maiores são hoje as próprias famílias e não suas resultantes: crianças precocemente internadas em abrigos, meninos/as de rua...

Macro-políticas que pressupõe a introdução da família na agenda da política social
Sem dúvida, o Estado brasileiro precisa investir com urgência numa politica social de qualidade com objetivos de erradicação da miséria. A descentralização e a municipalização também são condições fundamentais.
As desigualdades sociais e é preciso uma radical redistribuição de renda. O salário mínimo atual de 60 dólares mensais é um reforço à miséria, à exclusão e ao “apartheid” social.
Políticas de geração massiva de empregos, assentamentos de famílias no campo, saneamento básico, programas de segurança alimentar devem ser a base primeira da atenção às famílias brasileiras.

Micro-políticas de âmbito municipal na atenção à família
No âmbito da sobrevivência e da existência cotidiana familiar e comunitária, algumas ações precisam, além de compensar, alterar esse mesmo cotidiano.
É preciso retomar as unidades família e comunidade como ponto de partida e práticas sociais alterativas e não simplesmente alternativas.
Isto significa que a família, tal qual a comunidade, precisa de apoios direcionados ao maior e melhor usufruto de bens e serviços indispensáveis à alteração da qualidade de vida e exclusão a que estão submetidas.
A saúde e a educação são serviços estratégicos e essenciais. Porém não bastam consultas médicas garantidas e a matricula da criança na escola.
O sucesso da atenção à saúde e à educação depende da conjugação de ações e apoios advindos das demais políticas e sobretudo de uma rede de apoio e envolvimento das famílias e comunidades no usufruto eficaz destas atenções básicas.

Uma pauta concreta de atenção mínima às famílias
A priorização da família na agenda da politica social envolve necessariamente programas de geração de emprego e renda; rede de serviços comunitários de apoio psico-social e cultural; complementação da renda familiar.
As ações hoje são assistencialistas e tutelares, o que precisa ser erradicado em um projeto político de compromisso ético para as famílias brasileiras.

1)    Programas de geração de emprego e renda
Destinados a famílias empobrecidas

2)    Rede de serviços comunitários de apoio psicossocial e cultura a famílias
Alguns programas/serviços se destacam nesta forma intersetorial e interdisciplinar aqui enfatizados:
·         Programas de atenção à gestantes e nutrizes.
·         Serviços especializados de apoio psicossocial;
·         Programas de socialização e lazer;
·         Acesso á cultura.


3)    Complementação da renda familiar