quarta-feira, 28 de setembro de 2016

DESINDUSTRIALIZAÇÃO PODE SER UM BEM?


Em recente edição da revista Veja há uma coluna do Mailson de Nóbrega, ex-ministro da Fazenda do governo FHC com intrigante título “O lado bom da desindustrialização”. A palavra “desindustrialização” entrou em uso só recentemente, mas está sendo aplicada cada vez com maior freqüência e maior preocupação.

Não é para menos. Nas últimas décadas prevaleceu um otimismo e até um orgulho patriótico sobre as façanhas da indústria nacional, que crescia a olhos vistos dominando segmentos sofisticados como o automotivo ou aeronáutico.

Os males que afetam a indústria brasileira são por demais conhecidos e comentados e, infelizmente, de difícil solução, já que os problemas são praticamente todos na esfera governamental, onde a iniciativa ou opinião privada pouco pode fazer, mais ainda com o Congresso e Senado compostos de políticos que ainda não mostraram para o que foram eleitos. Problemas de legislação obsoleta, problemas de infra-estrutura, agora agravados pela onda de greves, injustificáveis, enfim, deixo a cargo dos mais competentes e mais envolvidos ou atingidos comentar os “malfeitos” (também um neologismo em moda).

Onde será que Mailson de Nóbrega encontrou “O lado bom” na desindustrialização? Segundo ele, não é fenômeno tipicamente brasileiro, mas trata-se de fenômeno global. A participação da indústria nacional no PIB de 1985 foi de 35 % e caiu para 16 % em 2009. Mas o crescimento anterior era mais resultado do fechamento da economia do que resultado da eficiência. As perdas alarmantes de competitividade sofridas nos últimos tempos se devem ao aumento salarial acima da produtividade, sistema tributário caótico, legislação trabalhista anacrônica, infra-estrutura deteriorada e burocracia excessiva. Nada que já não teria sido comentado e analisado. O problema reside no fato, de que não há nem tentativa de remover ou corrigir estes fatores.

O lado bom, da desindustrialização residiria no aumento da área de serviços, cada vez mais sofisticados e importantes para a vida moderna. Não falamos de salões de beleza, de lanterneiros ou empregados domésticos. O setor de serviços na sociedade moderna envolve setores de alta tecnologia, design de novos produtos, de software para estes, ciências médicas e equipamentos para médicos, nanotecnologia, novos materiais e avanços nestes setores.

Como chegar até lá? 
Existe um único caminho, o caminho da educação. É nisto que o Mailson de Nóbrega vê o lado positivo da desindustrialização. Ou seja, o poder público e, melhor ainda, o clamor público deve exigir melhores escolas, desde o ensino fundamental, criação de mais e melhores escolas técnicas e profissionalizantes para formação de mão-de-obra condizente com as mudanças na vida social, econômica e industrial do terceiro milênio e das mudanças a que a sociedade moderna está submetida. Agora mesmo assisti no programa “Bom Dia Brasil” a notícia, de que este ano, até agora, o Ministério de Trabalho já outorgou 33.000 permissões de trabalho para profissionais estrangeiros!

Este é um fenômeno que não tem nada de novo. Os “tigres” asiáticos estão provando a cada dia o acerto desta política do futuro. As Coréias são um retrato vivo do funcionamento desta filosofia. A Coréia do Norte, com sua população na mais degradante miséria, morrendo de fome, presa às idéias obsoletas do socialismo, no Brasil brilhantemente representado pelos esquerdinhas, e a Coréia do Sul, praticando democracia e um capitalismo sadio, está cada vez mais presente no cenário econômico mundial. Até no Brasil, os Hyundiai e Kias já viraram sonho de consumo, sem falar nos eletrônicos.

E como fica a indústria de calçados brasileira neste contexto? 
Temos dois caminhos a seguir. Que, aliás, talvez sem se dar conta do ocorrido, já estão sendo seguidos pelos dirigentes das indústrias nacionais. 

  1. Um caminho é o caminho clássico o de “deixar estar para ver como fica” na doce esperança que “o governo tem que tomar alguma providência!” – 
  2. e o outro já trilhado pelos empresários antenados com os tempos atuais, que já trilham caminhos independentes sem esperar por uma bóia salva-vidas que não virá.

Estes caminhos são fáceis de identificar, embora não tão fáceis de implantar, dada a natural resistência humana de sair da zona de conforto e enfrentar situações novas para as quais não existem parâmetros de experiências passadas. Ou, alguém tem coragem de dirigir pelo retrovisor?   

Mas quais são especificamente os caminhos a nos levar para um Porto Seguro deste milênio?  

  • Enxugar as fábricas e introduzir uma gestão lean como os engenheiros de produção da nova geração adoram dizer. 
  • Fazer uma pesquisa de mercado, mas uma pesquisa real, não baseada nas informações viciadas dos representantes. 
  • Fortalecer a marca por todos os meios de comunicação disponíveis. Originalidade na criação. 
  • Preenchimento de nichos de mercado mal ou não atendidos. Adotar tecnologias e materiais de ponta. 
  • Selecionar com critério e treinar constantemente os colaboradores. Sacrificar a quantidade em favor da qualidade e maior valor agregado.

Atendida esta parte, que venha a desindustrialização! Nos vamos sobreviver, atendendo o crescente setor de serviços, dono de maior poder aquisitivo e mais seletivo quanto à qualidade e originalidade de produtos. Não resta dúvida, é um desafio enorme. Mas de há muito sabemos que para a indústria também se aplica a Lei do Charles Darwin – só os mais capazes, preparados e resistentes sobreviverão!

Zdenek Pracuch
10/09/12

fonte: http://www.pracuch.com/tec_desindust.html

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