terça-feira, 12 de abril de 2016

Aos 82 anos, médica se arrisca no mar para levar assistência aos habitantes de quatro ilhas

Aos 82 anos, médica se arrisca no mar para levar assistência aos habitantes de quatro ilhas
Dona Joana é a única médica que presta atendimento às comunidades das quatro ilhas | foto: Kristiano Simas/Agência Assembleia
Ondas, ventos fortes, chuva e sol. O perigo que ronda as embarcações que se arriscam na travessia em ‘mar aberto’ entre o porto do povoado Pau Deitado, no município de Paço do Lumiar, e o arquipélago das Marianas, no extremo norte do estado, é de causar temor a qualquer mestre de embarcação experiente. Mas não para a médica Joana Ramos da Rocha, de 82 anos. Medo é um sentimento que nunca existiu e enfrentar esse mesmo percurso todos os meses é mais que um desafio, é um compromisso de vida.

Dona Joana tem um motivo muito especial para se lançar ao mar na perigosa travessia de barco pelo menos uma vez por mês. Ela é a única médica que presta atendimento às comunidades de pescadores que habitam Carrapatal, Santana, Jurucutuoca e Pedras, quatro ilhas do arquipélago das Marianas, no município de Humberto de Campos, a cerca de 45 milhas de São Luís.    
São 12h20 do dia 16 de janeiro de 2016. No Porto do Pau Deitado, o barco ‘Cavalo Marinho’, uma daquelas embarcações de pesca tipicamente maranhense, aguarda desde cedo a chegada da sua principal passageira. Joana Ramos chega sorridente e, com muita disposição, sobe no barco se equilibrando em cordas. Começa a viagem que demorará cerca de seis horas até a sua primeira parada, que é a Ilha de Carrapatal.
A travessia é perigosa. No início da viagem, o ‘Cavalo Marinho’ enfrenta ondas traiçoeiras e os fortes ventos da baía de São José. Etapa vencida, o barco segue em frente singrando agora as águas do Oceano Atlântico.
Joana não se abala. Durante toda a viagem ela leva na mão esquerda a inseparável maleta branca; na direita o rosário que segura com força entre os dedos e nos lábios pintados de batom vermelho um cativante sorriso. No coração vai prosseguindo a viagem motivada por uma intensa vontade de servir.
A médica viaja sentada no convés do barco com o olhar firme no horizonte. Um mar a perder de vista e uma paisagem que ela diz conhecer há 43 anos realizando este mesmo percurso de São Luís até as ilhas do município de Humberto de Campos.
No balanço das altas ondas que não dão trégua e jogam muita água dentro do barco, Joana cantarola cânticos religiosos ou músicas da sua juventude. Os dedos sempre dedilhando o seu rosário.
 “Não tenho medo algum. O que sinto é uma enorme vontade de servir. Sei que muitas pessoas estão além deste mar esperando a minha chegada. Eu tenho uma missão nesta vida e exerço a medicina como um sacerdócio”, relata.
Jacqueline Heluy/ Agência Assembleia

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