Cenise
Monte Vicente
O
vínculo tem dimensão biológica, afetiva e social
A todo nascimento
corresponde um encontro entre um homem e uma mulher. A primeira gestação é
impensável sem um vínculo entre mãe e feto. Um cordão os une e possibilita a
vida.
Após o nascimento, o
seio assumirá esta função de vinculação concreta, o recém-chegado sobrevive
graças a vinculação orgânica, biológica e crescerá e se desenvolverá com a
constituição de uma vinculação simbólica, afetiva social.
Toda
criança tem família e rede de parentesco
O bebê, após ser
concebido, já pertence a uma rede familiar (pai e mãe e seus respectivos
familiares), pertencendo a esses grupos, também já está estabelecido quem são
os outros e o universo de escolhas amorosas e interdições às quais estará
sujeito, de acordo com a cultura onde ele será inserido.
Toda
criança tem família e rede de parentesco
O bebê, após ser concebido,
já pertence a uma rede familiar (pai e mãe e seus respectivos familiares),
pertencendo a esses grupos, também já está estabelecido quem são os outros e o
universo de escolhas amorosas e interdições às quais estará sujeito, de acordo
com a cultura onde ele será inserido.
O
vínculo é vital
Nos primeiros anos de
vida a criança depende destas ligações para crescer. Cuidados com o corpo,
alimentação e aprendizagem. Mas nada disso é possível se ela não encontrar um
ambiente de acolhimento e afeto. Bebês não sobrevivem ao desamor. Pais
conflituados e instáveis produzem uma relação de ambivalência que pode
prejudicar a criança.
Na área de saúde
mental, o papel dos distúrbios familiares nos sintomas da criança tem sido cada
vez mais reconhecidos.
John Bowlby,
especializado em desenvolvimento humano afirmava, já em 1951, que "o amor
materno na infância e juventude é tão importante para a saúde mental quanto as
vitaminas e proteínas o são para a saúde física. (apud Rutter 1972, 1981)
A
criança nasce numa comunidade
A criança nasce em
determinado território social e geográfico, recebe o direito à cidadania;
natural de algum lugar que será incluído na sua identidade.
A criança nasce,
portanto, em uma comunidade. "Sou filho de tais pessoas e sou de lugar tal".
São duas coordenadas que permitem a qualquer um situar-se no mundo.
A nacionalidade é um
presente imediato de qualquer sociedade a uma criança. São as raízes brotando.
É a faceta comunitária da necessidade humana fundamental de não estar só.
A criança inicia sua
história dentro da história de sua família, de sua comunidade e de sua nação.
Hannah Arendt (1973
relaciona a ação do nascimento. Segundo seu pensamento "agir é a resposta
humana à condição da natalidade, estamos aptos a começar algo novo; sem o fator
nascimento nem sequer saberíamos o que é a novidade", e qualquer
"ação não passaria de comportamento ou preservação comum. Agir e começar
não são a mesma coisa, mas estão intimamente ligados".
O
vínculo e o crescimento
O ser humano não
dispõe, ao nascer, de repertório suficiente para sobreviver sem a participação
de um outro significativo, que supra sua inabilidade para subsistir, sua falta
de autonomia.
Os primeiros anos de
vida sao de grande imaturidade e vulnerabilidade (Rosseti-Ferreira, 1984)
O vinculo ou o apego
seriam um desses sistemas, "cujo alvo (set goal) é a manutenção da
proximidade entre a mãe e a criança, de maneira a garantir a segurança dessa
última" (Bowlby, 1951 e Bischoff, 19758, apud Rosseti-Ferreira, 1984).
A dor
do rompimento
O outro significativo
pode não ser a mãe. No processo interativo tanto a criança quanto ao adulto têm
papel ativo na constituição da ligação afetiva. O vínculo pode ser com outras
pessoas que se ocupam ou não das necessidades básicas da criança.
No entanto, separar
ou perder pessoas queridas ou romper temporária ou definitivamente os vínculos
produz sofrimento.
Vários estudos
dedicaram-se a estudar os danos causados pelo afastamento da criança de pessoas
queridas. Um dos aspectos observados diz respeito a hospitalização. O Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA) enfatiza o direito da família de acompanhar a
criança durante a internação hospitalar: "Os estabelecimentos de
atendimento à saúde deverão proporcionar condições para a permanência em tempo
integral de um dos pais ou responsáveis, nos casos de internação de criança ou
adolescente" (Artigo 12).
A
importância do filho para os pais e a família
Já foi referida a
importância da família para a identidade do bebê. Não se pode deixar de
refletir sobre a reciprocidade, isto é, a importância do bebe para o pai e a
mãe.
Quando um bebê é
concebido e aceito, a identidade dos genitores também é alterada, o homem e a
mulher envolvidos nascem na condição de pai e mãe. E a cada nova criança que
nasce promove uma alteração na "gestalt" familiar.
No ponto de vista de
adultos grávidos - pai e mãe - o vínculo com o novo ser anterior ao nascimento
é composto de um imaginário repleto de esperança.
A experiência de
convívio entre irmãos pode ser igualmente rica e marcante para as crianças.
Importância
do vínculo no direito à vida
O vínculo é um
aspecto tão fundamentalmente na condição humana, e particularmente essencial ao
desenvolvimento, que os direitos da criança o levam em consideração na
categoria convivência - viver junto. O que está em jogo não é uma questão
moral, religiosa ou cultura, mas sim uma questão vital.
Sobreviver é pouco. A
criança tem direito a viver, a desfrutar uma rede afetiva, na qual possa
crescer plenamente, brincar, contar com a paciência, a tolerância e a
compreensão dos adultos sempre que estiver em dificuldade.
A criança tem direito
a chorar, utilizando de modos corporais de expressão, como o gritar, o
debater-se, o emudecer etc.
Pais e adultos devem
estar informados e preparados para respeitar os momentos da criança. Se a
criança encontra pais e adultos que a enxergam, escutam, acompanham com
interesse e com expectativa positiva seus passos, tornar-se-á uma criança feliz
e segura.
A
dimensão política do vínculo
Quando a família
(tenha a configuração que tiver) e a comunidade não dão conta de garantir a
vida dentro dos limites da dignidade (aí incluído um mundo amistoso,
acolhedor), cabe ao Estado assegurar aos cidadãos tais direitos para que a
criança desfrute de bens que apenas a dimensão afetiva pode fornecer. Esse
vínculo tem dimensão política quando, para sua manutenção e desenvolvimento,
necessita do Estado, nesse momento, o vínculo, por meio de direito à
convivência, passar a fazer parte de um conjunto de pautas das políticas públicas.
A família natural ou
substituta é sempre melhor do que qualquer instituição de internação. A
institucionalidade tem historicamente produzido crianças analfabetas e sem
perspectivas de vida autônoma.
As
representações sociais sobre as famílias pobres
A dimensão política é
afetada pelo universo das representações sociais, isto é, símbolos, ideias e
imagens compartilhadas pelo coletivo.
As crianças em
situação de rua expressão o nível de miséria de suas famílias e de suas
comunidades. No entanto, a representação construída tem sido a de que as
pessoas não têm família, são "da rua". Ou então, que foram
"abandonadas" por pais desprovidos de afetividade.
Poder público,
sociedade civil e comunidade: construindo uma rede de apoio às crianças, aos
jovens e a suas famílias.
As famílias
diretamente afetadas pela sua são em numero menor do que o de crianças vivendo
nas ruas, já que, em geral, não é uma única criança que migra da miséria
doméstica.
Assim, programas que
desenvolvam projetos com as familias podem atingir as crianças e resgatar uma
qualidade de vínculo que lhes permita abandonar o exodo circular urbano.
O principal
continente complementar é a creche ou a escola.
Conflito
familiar
O fato de a família
ser um espaço privilegiado de convivência não significa que não haja conflitos
nesta esfera. Segundo Salem (1980), " cada ciclo da vida familiar exige
ajustamento por parte de ambas as gerações, envolvendo portanto, o grupo como um
todo".
O silêncio nem sempre
é sinal de paz ou de liberdade. Quando a resolução de um conflito se dá pelo
silenciamento do mais fraco remete os ressentimentos à esfera latente,
carregada de energia pronta para emergir, muitas vezes utilizando-se de um modo
de expressão que acentua a barreira do diálogo.
A construção de uma
sociedade democrática passar por uma transformação destas relações, por uma
nova compreensão da vitalidade do conflito, pela produção de novas respostas,
centradas no único método não violento: o diálogo. Dialogar e aprender a
conviver com as diferenças são instrumentos fundamentais para esta mudança no
relacionamento do mundo adulto com o infanto-juvenil.
Serviços
e programas
As famílias e a
sociedade têm, no mínimo, três grandes problemas a enfrentar? 1) a rua; 2) a
institucionalização e 3) a violência.
A rua afasta crianças
e jovens de suas famílias e comunidade, oferecendo de modo sistemático o
ingresso ao crime e à droga. Estes caminhos levam à violência, à privação da
liberdade e, muitas vezes, à morte.
A organização de
programas e serviços destinados a atender e dar retaguarda às famílias durante
todo o ciclo de vida - desde a concepção até a velhice - pode evitar os três
problemas citados.
Violência
doméstica
A violência doméstica
está presente em todas as classes sociais. Resulta de um conflito de gênero ou
de gerações. Decorre de uma forma de lidar com as desigualdades na qual as
diferenças são transformadas ou em relação entre superiores e inferiores ou
onde os mais fraco é tratado enquanto "coisa" (Azevedo de Guerra,
1989 e 1990)
Existe a tradição de
ensinar através de castigo, da punição e ela conta com diversos provérbios
populares que defendera uma intenção violenta, legitimada pela
"obrigação" da família em corrigir a criança.
A denúncia tem um
papel importante na conscientização sobre os direitos das crianças. Para além
da constatação do fenômeno, são necessários serviços de notificação,
acompanhamento de famílias maltratantes, programas preventivos e de
intervenção, atendimento especializado de atenção e de retaguarda às vítimas e
agressores.
Os abrigos podem ter
uma função importante durante o estudo do caso, enquanto a justiça não define
se a família perde o pátrio poder.
muito útil, obrigada!
ResponderExcluirQue bom que gostou Sâmia Rodrigues... espero contribuir com mais posts e aceito sugestões. Se puder segue meu blog ok? Obbrigada!
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